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Afeto, engenhosidade e alma: o design de Bruno de Carvalho

  • +55design
  • 14 de out.
  • 10 min de leitura

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Entre tantos nomes que compõem a curadoria da +55design, Bruno de Carvalho se destaca por traduzir no mobiliário uma narrativa que é, ao mesmo tempo, técnica e profundamente pessoal. Seu recorte de ideias e a inteligente combinação de materiais inusitados com execução artesanal reforçam a identidade de seus designs. Arquiteto de formação, artista por vocação e designer por paixão, Bruno – um dos nomes mais versáteis do design brasileiro contemporâneo – leva para suas criações um repertório que cruza a precisão da arquitetura com o afeto das lembranças familiares.


5 anos na +55: a trajetória


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Um dos primeiros designs de Bruno de Carvalho comercializados pela +55 foi também um dos protagonistas da estreia da marca em 2020: a família Sela, tanto o balanço suspenso (reedição) quanto a poltrona de piso (lançamento exclusivo). As peças em couro eram inspiradas no tradicional trabalho da selaria gaúcha, remetendo à lembrança do cavalgar – na infância, sua cidade natal era ponto de parada dos tropeiros gaúchos. 

Em 2021, os lançamentos da vez foram o par de mesas de centro Bene e Dita e o sofá Francisco –  ambos, batizados com nomes da família. Os designs da coleção tiveram como ponto de partida a classificação de materiais que tivessem características antagônicas mas complementares, tanto na textura quanto na forma: as mesas formam um par que se equilibra na pedra fria combinada à maciez da madeira, enquanto o sofá possui toda sua estrutura em madeira, num contraponto às almofadas aconchegantes usadas no encosto e nas laterais de forma casual.



A partir de 2022, os laços com a +55design se estreitaram ainda mais: Bruno passou a ter todas as suas peças comercializadas com exclusividade pela marca, ampliando sua atuação para além da criação, com participação direta no desenvolvimento das coleções em fábrica. Transpondo sua proximidade com a arte para o raciocínio espacial, o designer apresentou naquele ano uma coleção com mais de dez peças, como as mesas Lena, o sofá Joaquim, o bar Sylvia, o aparador Diamante, a poltrona Carteiro, o banco Marina, a coleção Relicário, a cadeira Levíssima e os bancos Rosamaria – uma produção que reafirmou sua linguagem autoral, seu vínculo afetivo e sua versatilidade criativa.



O ano de 2023 trouxe a coleção ‘Coreografias para o bem-estar’, com lançamentos como a coleção João – cadeira, poltrona e banqueta que homenageiam o avô de Bruno, com tiras de couro entremeadas entre perfis modulares de madeira –  a mesa Pedrosa – inteiramente em cerâmica, é uma releitura minimalista do balaústre, elemento rococó tão presente no cotidiano brasileiro – e o sofá Tecno, que trouxe a delicada união entre tecnologia, conforto e leveza através do traço do designer. 


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Criado durante a pandemia, o sofá nasceu do desafio de pensar uma estação padrão para o trabalho remoto. Desenvolvido em módulos de braços, encostos e pés, o móvel se adapta ao ambiente da sala de estar com personalidade ímpar. A caixa tecnológica que acompanha o móvel é o grande diferencial: a partir dela, é possível carregar eletrônicos por indução, de maneira discreta e descomplicada.



“Comecei a falar sobre o Tecno com a +55 em setembro de 2020, seis meses após o início da pandemia da COVID-19. Naquele momento, as pessoas estavam tentando se adaptar aos novos formatos de trabalho, considerando o home office. Observando minha dinâmica cotidiana, percebi que os elementos fundamentais eram nossos próprios notebooks, tablets e celulares, e a questão deveria focar seu uso. Foi nesse momento que nasceu a caixa tecnológica.”

    – Bruno de Carvalho



2024 começou de forma especial com o lançamento da coleção Cordel, apresentada pela +55 durante a SP–Arte. Toda a concepção teve a assinatura de Bruno de Carvalho: desde a ideia original de transpor os grafismos da xilogravura para o universo do mobiliário, até o desenho das peças únicas, a modulação das matrizes e a proposta expográfica do estande. Uma bela homenagem ao artista nordestino J. Borges, materializada pelo traço preciso, sensibilidade única e talento valioso de Bruno. O reconhecimento final chegou em 2025, com a conquista do prêmio ELLE Deco Brasil Design Awards para o aparador Coco Verde e Melancia, uma das peças da coleção.


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“A Coleção Cordel é a junção do fazer manual com a indústria; é a tradução do que entendemos como identidade do móvel brasileiro.”

– Bruno de Carvalho


Já no 2º semestre, no lançamento da coleção anual ‘Design afetivo, um convite para ser feliz nos detalhes’, o designer assinou peças como sofá Carioca, cadeira Carioquinha, sofá Fora da Curva (saiba mais neste post), poltrona Francisco, bar Diamante, poltrona Joaquim, Poltrona Carteiro em versão outdoor, mesas Louvre e biombo Sylvia – reiterando sua inspiração nas próprias memórias para criar móveis carregados de significado.


Poltrona Carteiro, sofá Fora da Curva, bar Diamante, poltrona Joaquim e mesa Louvre. Fotos: Romulo Fialdini


Por fim, em 2025, seu portfólio foi complementado na coleção ’A Beleza do Desvio’ com o lançamento dos inéditos sofá Catamarã e poltrona Quadrada, além de desdobramentos de peças e famílias já desenvolvidas para a marca – o puff Carteiro, a poltrona Carioca e a cadeira Carioquinha Outdoor

 

Poltrona Quadrada e sofá Catamarã, dois dos lançamentos de A Beleza do Desvio. Fotos: Peu Campos



Da curadoria ao fazer: uma parceria que se constrói em quatro mãos



A relação entre Bruno de Carvalho e a curadora Clarissa Schneider é marcada por uma troca genuína e contínua. A direção criativa de Clarissa, que define os layouts e moodboards de cada ambiente a cada renovação de showroom, encontra em Bruno um parceiro técnico e sensível, capaz de traduzir conceito em matéria, ideia em forma, já que o designer atua como elo entre o pensamento curatorial e a produção, aplicando sua expertise junto à equipe da fábrica +55. Essa dinâmica de via de mão dupla – entre a visão estética de Clarissa e o rigor construtivo de Bruno – sustenta uma relação criativa viva, movida pela crença compartilhada no propósito que deu origem à marca.


Conheça o processo produtivo e industrial por trás de uma seleção de peças assinadas por Bruno:


Bar Diamante



Sofá Fora da Curva



Cadeira Levíssima



Afeto como matéria-prima


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Aparador Sylvia, poltrona Joaquim, cadeira João, banco Marina, mesa Lena, sofá Francisco e mesas Bene e Dita: nos nomes, homenagem aos afetos de Bruno de Carvalho


A produção de Bruno de Carvalho para a +55design é marcada por um compromisso que vai além da estética e da função: o de atribuir sentido às formas por meio da memória. Boa parte de suas peças carrega nomes de familiares, revelando uma abordagem sensível, que transforma o mobiliário em gesto afetivo.


João, uma família composta por cadeiras, poltronas e banqueta, revela a potência do trabalho manual que guiava o trabalho no campo do avô de mesmo nome. Embalada pela música “O Cio da Terra”, de Milton Nascimento e Chico Buarque – canção que acompanha o processo criativo do designer –, a linha traduz o respeito ao tempo, à matéria e ao fazer manual, combinando rigor construtivo de elementos de madeira modulares e a sensibilidade artesanal de tiras de couro entremeadas.


Bene e Dita, par de mesas retangulares e circulares que retomam sua avó paterna, se combinam a partir do contraste – a frieza da pedra é equilibrada ao calor acolhedor da madeira. Já a sua mãe é homenageada em outro modelo – a mesa de centro, Lena, que traz um tampo circular em balanço, com recorte proposital e estratégico para revelar sua estrutura metálica de apoio.

 

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Sofá Joaquim em projeto assinado por Fernanda Marques. Foto: Fernando Guerra

Francisco e Joaquim, nomes escolhidos para os seus filhos, inspiram sofás e poltronas que são como um abraço aconchegante. Já o banco horizontal com estrutura de madeira refinada e detalhes em latão ganha o nome de sua esposa: Marina.


Para finalizar, a avó de sua esposa também é relembrada: dona Sylvia origina o nome da coleção de aparadores, bares e biombos, marcados pelas superfícies translúcidas em palha de seda e pelo uso da madeira.



Foto: Helio Leite
Foto: Helio Leite

“Minha família é minha primeira referência; são as primeiras pessoas que eu admirei e que me formaram como pessoa. Então, nada melhor do que homenageá-los contando suas histórias.”






– Bruno de Carvalho




Esse mapeamento íntimo de nomes e relações pessoais é transposto para o design por meio de materialidades contrastantes, linhas limpas, soluções construtivas engenhosas e uma estética que equilibra simplicidade e personalidade. Cada móvel nasce de uma história – e o conjunto da obra revela um repertório de afeto, técnica e autoria, transformando lembranças em mobiliário repleto de significado.


Bate-papo com Bruno de Carvalho


Foto: Helio Leite
Foto: Helio Leite

Para além de revisitar sua trajetória na +55, conversamos com Bruno sobre processo criativo, design afetivo, o diálogo entre arte e arquitetura e a parceria de longa data com a marca. A seguir, confira nossa entrevista com o designer.


Como se desenha a sua trajetória – da arquitetura ao design, até chegar à arte que hoje também te move?


Eu sou formado em arquitetura e trabalhei muitos anos com obras residenciais de alto padrão. Nessas experiências, eu também cuidava da curadoria dos móveis, o que me aproximou naturalmente do design. Sempre acompanhei os projetos desde o início até a entrega, desenhando marcenarias e, paralelamente, registrando ideias de móveis num caderninho. Depois, atuei em construtoras voltadas a obras de altíssimo padrão, onde o nível de precisão e detalhamento me exigia um olhar cada vez mais apurado.

Em paralelo, sempre fui muito ligado à arte – frequentava museus, exposições e pesquisava sobre o tema. Acho que tudo isso moldou o designer que sou hoje. Costumo dizer que sou um arquiteto de móveis e artista; algo entre essas áreas.


Como você se enxerga como designer?


Vejo meu trabalho num ponto de encontro entre arquitetura, execução e arte. Nunca me considerei apenas designer; gosto de transitar entre diferentes frentes, porque isso amplia meu repertório e a troca com outras pessoas. Trabalho com alma, com verdade. Acho que essa paixão é o que dá sentido ao que faço. Sou um híbrido: arquiteto, designer, artista – e, se for preciso, também marceneiro. Gosto dessa mistura, porque ela traduz exatamente quem eu sou e o que é o meu design.


Como sua experiência como arquiteto se soma ao seu lado designer?


Aparador Sylvia, design inspirado nos traços da arquitetura moderna de Brasília


Percebo que há uma diferença entre o arquiteto-designer e o designer-designer, e essa diferença está na forma de pensar construtivamente. Eu imagino as peças dentro de um espaço arquitetônico – consigo visualizar como um móvel se comporta em determinado ambiente. Costumo pensar: se tal arquiteto ou designer de interiores usasse um carrinho de chá, como ele seria? Esse exercício me ajuda a conectar criação e contexto. É o olhar da arquitetura que me dá esse raciocínio construtivo e proporções equilibradas.


A arquitetura me trouxe muito dessa brincadeira com a engenharia e da importância da proporção. Também me trouxe o desejo de contar histórias – e as da minha família são as mais fortes. Eles são minhas primeiras referências, as pessoas que admiro e que me formaram. Trago isso para o mobiliário.


Um exemplo é a coleção João, inspirada no meu avô. Ela fala sobre aproveitamento, simplicidade e respeito à matéria-prima, como ele fazia no sítio, aproveitando tudo o que tinha. É também sobre emoção – como numa música do Milton Nascimento que sempre me toca e me faz lembrar de onde venho. Meu trabalho é isso: falar daquilo que eu conheço, da minha verdade.



Qual é o sentimento de criar?


Sou uma pessoa muito ligada à emoção, ao drama, à curiosidade. Quando vejo uma grande estrutura em balanço, por exemplo, aquilo me fascina. Tento traduzir essa curiosidade nas peças – seja num móvel, seja numa obra de arte.

Cada criação é também um espelho do que sou. Muitas vezes, percebo na terapia o quanto meus móveis refletem minhas próprias questões. Criar é autoconhecimento. É transformar sentimentos em matéria.


Como a arte dialoga hoje com o seu trabalho de design?


Meu trabalho artístico segue a mesma linha do design, com forte presença da sustentabilidade e do reaproveitamento. Mas ele é mais livre, mais fluido. Enquanto o design tem uma rigidez estrutural, a arte me permite quebrar isso e explorar o emocional. Uma coisa alimenta a outra: o raciocínio técnico da arquitetura e a sensibilidade da arte caminham juntos.

Agora que não administro mais diretamente os meus produtos, tenho mais tempo para estudar e desenvolver essas criações. É muito prazeroso perceber que quem conhece meu design reconhece também o artista – e vice-versa. Não gosto de misturar as duas áreas, mas adoro quando elas dialogam naturalmente.


Você traz muito da sua história e da sua família para o mobiliário. Como o design afetivo te inspira?


Gosto de despertar sentimento em quem observa uma peça. Pode ser curiosidade pela construção ou interesse pela história por trás dela. As memórias me movem. Quando vejo uma peça pronta e percebo que ela expressa aquilo que imaginei – ou até algo diferente, mas ainda mais interessante – isso me emociona.

Adoro o processo de descoberta e evolução. Às vezes, depois que um produto já está no mercado, surge uma ideia de melhoria, e isso é parte viva do trabalho. A troca com a Clarissa, na +55design, é um bom exemplo disso: ela traz inputs que transformam as peças e as tornam ainda mais ricas.


Bruno de Carvalho senta no sofá Joaquim – cujo nome homenageia seu filho mais novo.Foto: Peu Campos
Bruno de Carvalho senta no sofá Joaquim – cujo nome homenageia seu filho mais novo.Foto: Peu Campos

Conte sobre a sua relação com a +55design. Como começou e evoluiu até hoje?


Minha relação com a +55 é de longa data. Tenho um carinho enorme pela Tatiana, pela Clarissa e pela Ticiana – é uma parceria de troca constante. Desde o início, acreditei muito no projeto. Quando me apresentaram a proposta, me encantei pela ideia, pela curadoria da Clarissa e pela história que a marca queria contar. A nossa relação é muito orgânica. Estou sempre envolvido em novos desafios, e elas também estão comigo quando quero mostrar algo novo. É uma parceria real, construída com confiança e afeto.

A +55 sempre teve uma visão clara: representar o design brasileiro com qualidade, sustentabilidade e autenticidade. Ver que esses valores permanecem até hoje me enche de orgulho. Recentemente, estive na fábrica e é gratificante perceber como tudo continua evoluindo sem perder a essência.


Bruno de Carvalho e as fundadoras da +55design, Ticiana Villas Boas e Tatiana Amorim. Foto: Paulo Freitas
Bruno de Carvalho e as fundadoras da +55design, Ticiana Villas Boas e Tatiana Amorim. Foto: Paulo Freitas

Quais aprendizados você leva da sua experiência como designer?


A melhor parte não é ser designer, é fazer o que se ama. Quando você trabalha com verdade, isso transparece e chega às pessoas. O maior desafio, pra mim, é aparecer. Sou tímido; essa exposição me custa energia. Mas aprendi a enfrentar isso.


Quais conselhos daria a quem quer viver de design de mobiliário?


Meu conselho é: não tenha medo de mostrar o seu trabalho. Coloque o produto debaixo do braço, fotografe, converse com quem entende, troque. Não se entregue ao mercado a ponto de perder a essência. Ajustes fazem parte, mas a verdade do seu desenho precisa permanecer. E o mais importante: faça, desenhe, crie. Sempre.




 
 
 

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