
A série Memórias de Mobília chega ao seu quinto episódio com uma estreia especial. Pela primeira vez, trazemos um designer que compartilha não apenas o processo por trás do móvel que criou, mas também as curiosidades sobre a casa que abriga essa peça única. E não é qualquer lar. Um espaço biofísico, casa-floresta repleta de plantas e tecnologia.
À primeira vista, esses dois conceitos parecem isolados, mas Guto Requena mostra que os algoritmos estão aí para facilitar o contato entre a natureza e as pessoas.
A curiosidade bateu à sua porta? Então venha conosco desvendar esse ambiente que dialoga com o surrealismo e transporta a gente para o passado e para o futuro – sempre com muito conforto, inovação e beleza.
Inspiração da poltrona
“A poltrona Delírios vem de um momento de pesquisa sobre o trabalho do Flávio de Carvalho, do trabalho contra a luta manicomial. Ele é um designer e artista multimídia que eu admiro muito. Também vem da minha pesquisa sobre design paramétrico, ou seja, computacional. Essa é uma das primeiras, senão a primeira poltrona brasileira, totalmente trabalhada e criada pelo uso de algoritmos”.
Tecnologia a serviço do conforto
“A criação da poltrona vem dessa vontade de criar uma peça que fosse toda cortada por braços robóticos, toda cortada por uma grande CNC e depois encaixada, montada. Eu adoro ficar nessa posição que eu estou de perna cruzada. De um lado tem esse viés digital, tecnológico, que tem a ver com meu trabalho. Mas do outro, esse abraço, esse conforto”.

Poltrona digna de rainha
“Tem uma história interessante de uma concorrência para desenhar o escritório do sheik do Qatar, no último andar do Qatar Foundation. Fiz uma imersão sobre desenhos e ergonomia de poltronas, pesquisei sobre proporções, conforto, maneira de sentar. A Delírios é fruto desse estudo. Trouxe essa estética de móveis grandes, austeros, robustos”.
Processo produtivo
“Só a +55 para topar criar uma poltrona que teve um desenvolvimento complexo. Eu acho que foi quase um ano de produção entre mockups e o teste de ergonomia. É muito legal quando a gente cria uma poltrona porque você precisa sentar nela, experimentar, avaliar se precisa estar mais inclinada ou menos inclinada. Como que isso vai se encaixar? Como que eu faço para ter o maior aproveitamento de material, para ter o mínimo de desperdício?”.

Algoritmo com alma
“Fizemos impressões 3D e protótipos de papel. Depois vieram os testes digitais até finalmente chegar nessa proporção. Os algoritmos também nos ajudam a criar uma poltrona que aproveita ao máximo as chapas de madeira. Por trás do pensamento de produção de conceito, também teve a vontade de criar uma poltrona que fosse o mais sustentável possível”.
Chez Guto
“A poltrona chegou aqui quando eu mudei para esse apartamento com o meu marido, que era fruto de um sonho. Foram quase dois anos entre projeto e obra. Tem muita planta, como vocês podem ver. Ao mesmo tempo, um apartamento muito tecnológico, todo conectado. Eu converso com ele através de vários sensores. Tem três quilômetros de cabo de rede. É totalmente automatizado. E essa poltrona simboliza, de certa forma, esse momento. Eu também tenho uma poltrona dessa no escritório”.

À primeira vista
“Propositalmente a poltrona Delírios está posicionada para a entrada. Então quando a pessoa entra na minha casa, a primeira coisa que ela vai notar são as costas dela – que é muito escultórica. O design foi pensado para as pessoas andarem em volta dela”.

Design com empatia e afetividade
“Eu cresci numa cidade chamada Araçoiaba da Serra, no meio do mato, no meio dos bichos. Eu andava a cavalo, tirava leite de vaca. Tive a sorte dessa infância rodeado de natureza. Então acho que, de alguma maneira, tudo o que eu crio traz um pouco também esse lugar de afeto. Acho que hoje o que me faz delirar na arquitetura e no design é a questão da empatia. Então a minha pesquisa vai muito para esse lugar. Como usar as tecnologias para falar de afetividade, para convidar as pessoas a olharem olho no olho, a conversarem, a se conhecerem”.

Comments