
Vik Muniz
“É como se a gente crescesse junto com o brinquedo. E, ao mudar de escala, o uso dele também muda. Ele assume uma forma imaginária, conceitual. A coleção Arquétipos vai além da utilidade. É uma ideia”.



Manifesto
Parece brinquedo, mas não é. O que sugere um trabalho manual, costurado com sutileza, desafia a percepção e a matéria. Em Arquétipos, coleção criada por Vik Muniz para a +55design, o artista traduz, pela primeira vez, sua pesquisa sobre imagem e ilusão para o mobiliário.
Inspirada no universo de um kit de costura, a coleção provoca uma reflexão poética sobre a memória, o afeto e as histórias que nos conectam à infância. Nesse conjunto, nada é o que parece ser, mas cada detalhe remete ao encantamento do ato de criar e transformar, tão presente no imaginário da costura.
“Minha abordagem no design de móveis parte da conversa entre o material e o conceito, entre experiência física e a construção intelectual dos objetos. Móveis são arquétipos, pois habitam a nossa memória e o nosso repertório visual. Uma cadeira ou uma mesa são arquétipos, você usa uma vida inteira, você tem um modelo na sua cabeça. Antes mesmo de usá-los, já os reconhecemos em um nível simbólico e linguístico. Meu trabalho se desenvolve nesse jogo entre mente e matéria, entre consciência e fenômeno”, explica o artista.
Conhecido por usar materiais como sucata, açúcar e chocolate para criar composições visuais, Muniz sempre explorou o modo como percebemos as coisas. Agora, ele traz essa abordagem ao design. Sofás, poltronas e mesas ganham proporções exageradas e detalhes que remetem ao feito à mão – pontos aparentes, botões ampliados, volumes inflados, costuras evidentes. Tudo isso para criar móveis funcionais que, à primeira vista, parecem saídos de uma casa de bonecas, mas são robustos e pensados para o uso diário, reforçando a dualidade entre ilusão e materialidade, recorrente na sua obra.
Arquétipos questiona a maneira como interagimos com os objetos ao nosso redor. Linho, madeira e mármore se combinam em um jogo de contrastes, onde o desenho funciona divertidamente, enfatizando a relação entre escala e materialidade. Cada móvel é, ao mesmo tempo, um objeto funcional e um campo de experimentação conceitual. São artefatos que convidam à reflexão sobre a maneira como interagimos com o mundo físico e construímos significado a partir dele.
Clarissa Schneider
curadora






